domingo, 7 de novembro de 2010

NaruSaku sob a ótica de "Musashi"

"Musashi", de Eiji Yoshikawa, é um dos romances mais vendidos e lidos no Japão. Conta a história de Miyamoto Musashi, que foi um dos maiores sábios e guerreiro samurai do Japão Feudal. A obra seviu de base para diversas versões cinematográficas e televisivas, sendo considerada uma grande influência no cotidiano de diversas gerações de japoneses.

A relação entre "Musashi" e "Naruto" é quase nenhuma, a não ser pelo fato de que o ambiente onde as duas histórias acontecem é muito semelhante: mundos divididos entre senhores feudais eternamente em guerra, dependendo dos seus guerreiros (samurais ou ninjas) para extenderem seus domínios. Ou seja, não significa que se uma coisa acontece em "Musashi" o mesmo vai ocorrer em "Naruto", mas podemos usar os ensinamentos da primeira obra como uma referência para a cultura e valores japoneses, que muitas vezes difere da nossa ótica ocidental.

Assim, como prometi para a Cassi e a Quel, estou começando uma série de posts analisando cenas interessantes de Naruto que se assemelham de alguma forma ao livro que influenciou milhares de japoneses, e provavelmente, Kishimoto também. E o primeiro post é baseado no pequeno diálogo que se segue:


- (...) ele dirigiu às mulheres um conselho. Disse: mulher, não te cases com um homem...
 - Conselho mais esquisito!
 - Não brinque, escute até o fim. Ele disse: "não te cases com um homem: casa-te com a verdade".
- ...
- Compreendeu? Em outras palavras quer dizer: não se apaixone por um homem, mas sim por algo verdadeiro.


Esse conselho é dirigido a Otsu, uma garota orfã, que vivia num templo budista, esperando pelo dia que seu noivo retornaria da guerra para se casarem. Quando esse diálogo acontece, Otsu ainda não sabe, mas seu noivo já tinha fugido com outra mulher e sem a menor intenção de voltar para sua terra natal ou reencontrá-la.

A história de Otsu nada se assemelha a de Naruto, mas o conselho do monge me chamou a atenção. A primeira vez que vemos Naruto falando de seus sentimentos em relação à Sakura, ele simplesmente diz não saber por que gosta dela. Nas cenas seguintes, Naruto ainda é capaz de mentir para Sakura, difarçando-se de Sasuke para tentar roubar um beijo dela. Conforme a história se desenvolve, entretanto, o protagonista é obrigado a presenciar inúmeras cenas entre seus comapanheiros de time que o fazem ter certeza do amor que Sakura nutre pelo Sasuke. Uma certeza tão forte que, anos depois, quando Sakura se declara falsamente para o Naruto, nem ele mesmo acredita nela.

O "gostar" do Naruto para Sakura no início do mangá era justamente o tipo de paixão que o monge aconselha Otsu a evitar. O deslumbramento e a idealização que não corresponde exatamente à pessoa verdadeira. Naruto gostava de uma Sakura que ele não conhecia, era uma garota que simplesmente lhe chamava a atenção porque ele a achava bonita, sem se importar com a paixão dela por outro menino, chegando ao ponto de se disfarçar de "Sasuke" para falar com ela. Mais tarde, já amadurecido, Naruto a recusa justamente por entender que o amor que Sakura lhe declarava jamais seria algo verdadeiro.

"Ah, mas isso também vale para a Sakura, que adorova o Sasuke só porque ele era bonito!" Não exatamente. Sasuke e Sakura criaram uma cumplicidade enquanto estavam juntos no time 7 que nem Naruto (mesmo estando no mesmo time) conseguia entender. Sakura conheceu a força da vingança que crescia dentro do Uchiha antes de qualquer outro personagem, presenciou o recebimento do selo amaldiçoado e entendia o quanto isto podia alterar a índole do verdadeiro Sasuke. Quando ele foi reconhecido como uma ameaça a Konoha, Sakura não se deixou levar pelas vaidades de uma paixonite infantil, tentando protegê-lo, mas tomou para si a tarefa de matá-lo. Não apenas para salvar Konoha, mas para salvar o seu amor de um caminho triste e sem volta. E ainda, quando conseguiu uma brecha para matá-lo, a lembrança da despedida dos dois a fez lembrar que, mesmo decidido pela vingança, ainda existia um Sasuke capaz de compreendê-la quando lhe agradeceu, que ela não estava apaixonada por uma ilusão.

E não nos esqueçamos da Hinata. A primeira pessoa que enxergou Naruto não pelo estigma do Jinchuuriki da Kyuubi, mas como o verdadeiro ser-humano que ele é. É impossível definir seus sentimentos como "apenas admiração" depois do capítulo 437. Não é o mais recente herói de Konoha que Hinata ama, mas o menino que aprendeu a vencer o preconceito da vila e sua triste história para evoluir no ninja que derrotou Pain. Ela não ama uma figura idealizada, mas o verdadeiro Naruto.

Não vou entrar no mérito da reciporcidade dos sentimentos de Hinata e Sakura por Naruto e Sasuke respectivamente. Evidências existem, embora ainda não tenham sido totalmente desenvolvidas por motivos óbvios: os meninos estão focados em seus próprios objetivos e, como guerreiros honrados, jamais envolveriam pessoas que lhes prezam tanto em suas missões. Mas este é um tema para outra análise... :)


PS: Quanto ao conselho que a personagem Otsu recebeu, ele parece ter sido mais direcionado ao seu ex-noivo, Matahachi. Depois de três anos envolvido com a mulher que lhe deslumbrara, ele percebe que, na verdade, ela amava mais as roupas caras e o saquê, e se vê arrependido, desejando rever novamente sua antiga noiva e lamentando não poder mais voltar para sua terra natal depois de sua fuga vergonhosa.

3 comentários:

  1. Sou uma idiota que quase chora com essas análises e coisas bonitas que as pessoas dizem XD

    Adoro quando escrevem coisas como: "Não é o mais recente herói de Konoha que Hinata ama, mas o menino que aprendeu a vencer o preconceito da vila e sua triste história para evoluir no ninja que derrotou Pain. Ela não ama uma figura idealizada, mas o verdadeiro Naruto."

    Isso me faz tão bem, é tão lindo <3

    E a Bastet-sama como sempre com maestria fazendo uso das palavras ^^

    Adorei a análise, perfeita como sempre! E batento numa tecla que eu sempre insisti, a de que Hinata nunca fez essa visão idealizada do Naruto, e de que Sakura há muito deixou de Sasuke como aquela coisa perfeita. Muito interessante a relação desse trecho do livro com os sentimentos das meninas... :D

    ResponderExcluir
  2. Uou, Bastet!
    Estou sem palavras!
    Adorei a sua análise relacionando as duas histórias. Você tem razão, não é porque as histórias ocorrem na mesma época que as coisas que acontecem em uma vão acontecer na outra, mas é mesmo bom pra compreender os valores que moviam as pessoas no Japão naquela época e provavelmente que moldaram a mentalidade da sociedade através dos tempos.
    Tem muito a ver mesmo com a rejeição (que parece mais um conselho) do Naruto com relação à Sakura! E também com os sentimentos da Hinata...
    Enfim, simplesmente amei o post e estou cada vez mais pirando com as citações que você posta no Skoob!
    Necessito ler esse livro! rsrs
    Parabéns! Você escreve muitíssimo bem! *-*

    ResponderExcluir
  3. Você sabe que eu adoro as suas análises, Carla-chan, principalmente porque temos uma forma de pensar bastante parecida.

    Apesar de sempre tentar ver as coisas por outras perspectivas, tem coisas que eu não consigo entender. Por exemplo, quando vi a cena da Sakura se "declarando" para o Naruto, a primeira coisa que me passou pela cabeça foi: "Pronto! Kishimoto eliminou qualquer chance de NaruSaku ou qualquer dúvida que ainda houvesse dos sentimentos verdadeiros da Sakura em relação ao Sasuke." No entanto, quando ouvi que algumas pessoas realmente acreditaram que aquilo era uma declaração real, e que NaruSaku já era oficial, eu juro que não entendi como era possível chegar a essa conclusão.

    Apesar de nunca ter lido a história de Musashi (o que é uma vergonha admitir, afinal, tenho sangue oriental ú.u), eu consigo entender essa coisa toda da honra e do dever antes dos sentimentos. É algo muito relacionado à história e à educação rigorosa dos orientais. E essa relação entre Musashi e Naruto faz todo o sentido.

    Adorei a análise, e espero ver mais delas. =]

    ResponderExcluir

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...